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Tanta Saudade...

25/07/2021 às 09:40
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Miriam Morata
@miriammorata | Arquiteta
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Ano passado uma senhora de 86 anos me ligou e disse que faz 1 mês que o filho morreu e ela estava revirando algumas coisas e encontrou o artigo 'Tanta Saudade', que escrevi em 2002 para o Jornal Magus.

Quase 15 anos depois eu coloquei no meu livro Alzheimer diário do esquecimento.

Ela me ligou para agradecer porque sentiu que eu escrevi para ela, e Deus a ajudou a encontrar o jornal no dia do aniversário de 1 mês da morte prematura do filho.

Todos os dias eu me sinto abençoada por conseguir tocar o coração de algumas pessoas, através da palavra que escrevo com o coração.



'Tanta Saudade..

Eles povoam minhas lembranças, enchem de histórias a minha historia, tocam o meu coração com seus sorrisos, palavras soltas no ar, gestos familiares... mas não conseguem agarrar minha mão, que parece estar sempre á espera de um toque, um afago.

Eles, aqueles seres amados que a Vida arrancou de minha vida, aqueles seres que, um dia, saíram do meu cenário e deixaram um vazio que não consigo preencher com as lembranças.

Meu coração se recusa a aceitar o Adeus e se alimenta de sonhos, fotografias, objetos deixados como testemunhas desse amor, meu coração imagina que a espera é só um tempo dolorido entre a separação e o reencontro e, assim, faz da esperança, um alento para tornar minha dor suportável.

A morte não existe, dizem alguns, mas, como desmentir a cama vazia, o silêncio que parece reclamar a voz que preenchia meus vazios; como dizer aos braços ? que ficarão, para sempre, à espera do abraço, do calor do corpo - que essa ausência é mentira e eles não estão vazios, estendidos em direção a Nada?

Quantos dias serão necessários para que a saudade se transforme em lembrança e esta, em esquecimento?

Haverá algum remédio bendito, que possa fechar a ferida deixada pela ausência daqueles que amei e ainda insisto em alimentar esse amor?

De onde arrancar forças para não enlouquecer?

Como dizer a esses ?fantasmas? que povoam minha paisagem mais secreta, que a vida continua e eles precisam partir?

Como fazer com que a vida continue, se estou presa á felicidade que, um dia, eles me proporcionaram?

Não estou preparada para compreender a separação; não estou pronta para o adeus e tento, desesperadamente segurar a ¨Roda da Vida¨e impedir que ela gire, na tentativa patética de congelar o instante, segurar aquilo que não me pertence, cristalizar a matéria volátil de que é feita a existência.

Como uma criança que tenta, em vão, prender á árvore, a folha que se solta do galho, tento prender os seres amados aos meus braços. Soltá-los significa aceitar a minha própria impermanência; significa aceitar que a vida é só um sonho e, alguns acordam antes que outros.

A ¨Mão Sagrada¨que retirou esses seres amados da minha vida, foi a mesma que os colocou; o mesmo amor que alimentou o primeiro gesto, também alimentou o segundo...

E eu tento, arrogantemente, desvelar a Sabedoria que nutre o Mistério da existência, com uma inteligência tão ilimitada, uma compreensão do mundo tão medíocre, uma fé tão egoica e oportunista.

E por mais poderosa que seja essa ¨Mão Sagrada¨, ela não pode alcançar os domínios do meu coração. Esses seres amados permanecerão, para sempre, povoando minhas lembranças mais queridas; estarão, para sempre, passeando nos jardins da minha Alma, sempre atentos ao meu chamado; basta fechar os olhos e eis que, milagrosamente, as pessoas, os animais e até o meu pezinho de feijão que, um dia plantei em um copo com algodão, estão juntos comigo novamente.

Não preciso pedir a esses ¨fantasmas¨ que se afastem, pois eles estão vivos dentro de mim e isto não impede que a vida continue, nem altera o Amor que sinto por eles.

Somos parceiros dessa maravilhosa e estranha aventura de existir. Ainda que meus braços não os aconchegue mais, eu descubro que minha Alma também sabe abraçar."

Para dona Vilma Piccoli e todos que estão vivendo o luto, com meu abraço mais apertado.

Chore tudo que seu coração pedir, mas saiba que a Vida não continua ... porque ela não acaba, só mudamos de roupa e algumas roupas os sentidos não conseguem perceber.

Eles não partem, apenas deixam o peso da "roupa" da Terra, pois lá de cima, veem a gente melhor.

Míriam Morata


Miriam Morata
@miriammorata | Arquiteta
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