Sou Velha!
"Fui... uma bebê agitada que não gostava de dormir (desperdício) e quando queria alguma coisa tinha que ser na hora;
... uma criança curiosa que enfiou a mão no formigueiro, para conhecer os segredos daquela pequena montanha viva;
... uma adolescente rebelde e briguenta, que não aceitava ?não? e nem ?daqui a pouco?;
... uma jovem inquieta e inconformada, apaixonada pela vida e cheia de sonhos que queria mudar o mundo;
... uma adulta independente, determinada, teimosa, idealista que trabalhava 18 horas por dia, porque queria engolir a vida em grandes porções;
... agora começo uma nova aventura, já não acho que dormir é desperdício de tempo; continuo curiosa, mas aprendi que formiga pica e dói; a rebeldia está no meu DNA, bem como a teimosia e a fome insaciável de VIDA.
Aprender a andar, fazer xixi no peniquinho, segurar a colher e levar comida à boca não foi fácil, mas eu consegui.
Aprender a andar de bicicleta, segurar a ansiedade quando a professora dizia ? ?Guardem os livros e arranquem uma folha? ? sofrer por amor, decorar a tabela periódica; não conseguir sair do castigo para ir à festa; ou não ter dinheiro para aquela blusa linda... tudo isso foi muito difícil, mas eu consegui superar.
Fazer a prova de física e resistência de materiais era um mais do que desafio, era tormento; colar parede de madeira balsa na maquete, sem grudar nos dedos; fazer TCC e receber carta branca para projetar e construir, sem saber muito bem se aquela viga iria aguentar a carga e, a família ficaria segura na minha primeira obra... tudo isso foi muito difícil, mas eu consegui.
Cada etapa teve os seus desafios, tédio, encantos, dores e medos... mas eu consegui dar conta desse exercício de existir.
Agora começo uma nova aventura.
Sou velha!
Eu não gosto da palavra idoso, não existem idosas na Mitologia, existem velhas sábias, velhas bruxas, velhas curandeiras...
?A loba, a velha, aquela que sabe está dentro de nós. Floresce na mais profunda psique da alma das mulheres, a antiga e vital Mulher Selvagem.? (Clarice Pinkola Estes)
Sou velha selvagem e isso significa que tenho muitas histórias para contar; outras tantas para escrever; muitas frustrações, feridas, risos, amores, tombos, aprendizados, histórias deliciosas e outras que preferia esquecer, (mas a memória é senhora de si e só apaga o que bem entende); não sei muito bem o que me espera, mas sei que vou conseguir.
Claro que não descarto os tombos, esfolados, escolhas erradas... estou com medo das limitações físicas ou de perder a minha fome de vida?
Não! Não tenho medo, mas se der medo vou com medo mesmo, porque sei que a curiosidade, o espanto, a alegria e a certeza de que vai ser muito bom, me alimenta e empurra para a vida.
Bora começar a aventura de envelhecer!
O meu animal de poder é o Lobo e enquanto houver lua cheia, eu uivarei!"